quinta-feira, 12 de abril de 2012

Foi assim que Aconteceu...


Trago noticias! A passo de caracol, mas trago noticias. Sem grandes dissertações quero apenas deixar aqui o registo de um dos mais marcantes dias da minha vida. Dia 26 de Março de 2012. Dia marcado para a incisão... Foi também um dia marcado pelos mais paradoxos  sentimentos. Cheguei ao hospital às 17h30 num quente e doce dia de Primavera.   Cerca de 4 horas mais tarde chegava o tão ansiado momento. O auxiliar estava ali, com um doce sorriso, para me levar. Mandou-me deitar e tapar e lá começou a empurrar a cama pelos corredores do hospital. É há partida uma sensação de impotência, ora porque raio não poderia ir eu pelo meu pé? ainda questionei o auxiliar. Ele sorriu e respondeu, precisamos de a trazer de volta, na cama! Não percebi, nesse caso empurrava eu própria a cama até à entrada do bloco.... Mas já não questionei. No pequeno percurso, ao  ver reflectida no tecto a minha imagem assim deitada, tapada com um lençol branco e a ser empurrada por um auxiliar de acção médica, comecei a tomar consciência da realidade da situação. A partir daquele momento a situação estava fora do meu controle, e foi a partir desse instante que todos os meus sentimentos convergiram para um só: medo. Medo na sua mais pura essência foi tudo o que senti à entrada do bloco. Partilhei com todos este potente sentimento, com as enfermeiras e até com o médico. Que para descontrair também me respondeu que se estivesse no meu lugar também estava cheio de medo, aliás que já tinha fugido! Ainda me ri! Depois deram-me uma qualquer droga para me acalmar. Entrei no bloco, empurrada claro... O cenário estava montado, aquele que costumamos ver nos filmes, estava ali bem presente, montado para mim. A médica anestesista, muito divertida, começou por dizer umas parvoeiras e eu claro a responder no mesmo tom. Lembro-me que lhe respondi que queria viajar até às Maldivas. Cerca de 2h30 da minha vida  em os médicos empunharam o bisturi, eu impotente abracei de corpo e alma a fé e esperança e acreditei mais uma vez num final feliz. Acordei e mandei calar toda a gente, estão a falar muito alto, o Afonso pode acordar! Ops... afinal estava na sala de operações, acabadinha de acordar de uma cirurgia! Estava bem disposta e nada preocupada com a mama que me tinha sido acabada de "cortar". Levaram-me para o recobro. Sentia-me bem e perfeitamente lúcida.  Pensei que me iam deixar lá um eternidade, mas não. Estive lá cerca de 30 minutos e depois lá me levaram para o meu quarto no quarto piso, do Hospital da Luz, com vista privilegiada, imaginem só, para o cemitério de Benfica, a mim não me incomodou minimamente, mas de facto ... há pessoas mais susceptíveis. O Rui estava lá à minha espera, tentou disfarçar o nervoso com um caloroso sorriso. Querido, já está. Ainda anestesiada, sentia-me óptima. Peguei no telefone e liguei para a minha mãe e para a mãe do Rui que estava em casa com o Afonso. Falei entusiasmada com elas. Devia ser cerca da 1h da manhã. O Rui ficou mais um pouco, queria ver-me adormecer. Mas o sono teimava em manter-se afastado e os meus olhos bem abertos. Estava desperta, tão desperta que devo ter dormido 2 ou 3 horas nessa noite. De manhã, ainda anestesiada, com certeza, levantei-me com ajuda da enfermeira Joana, tomei banho com supervisão da auxiliar. Sentia-me bem e andei levantada de um lado para o outro, o dia todo. Foi o primeiro dia pós mastectomia. Os dias que se seguiram foram mais negros, mas sobre isso por escrever um outro post.

... e foi mesmo assim que aconteceu!