quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Ampulheta do tempo, caprichosa!


Ampulheta do tempo, caprichosa! Um grão de areia de cada vez, a contar os momentos dos meus dias! Três longos meses se passaram, grão a grão, e que se adivinhavam difíceis desde o primeiro grão. Cinco sessões de quimioterapia cumpridas acompanhadas de dias de agonia que me arrebataram a alma e tornaram cinzentos os meus solarengos dias. A espera agora é mais tranquila, a última sessão de quimioterapia, é já na próxima quarta-feira. Só mais um pouco, e cai o último grão. Depois, a ampulheta caprichosa fará cumprir o seu intento e dará mais uma volta! 

A cada sessão de quimioterapia empunhei uma poderosa arma, uma associação de drogas, protocolo TAC (Taxotere, Adriamicina,Ciclofosmida). Refastelada naquela poltrona durante 3 horas, recebi gota a gota, o destemido "soro" que percorreu as minhas veias com o único objectivo de destruir as células tumorais. Claro está que na sua passagem, varreu tudo o que lhe apareceu pela frente, células más e boas. 
Para ajudar a recuperar as células boas, mais concretamente na prevenção da neutropénia (que consiste na diminuição de neutrófilos no sangue), outra arma de arremesso, a minha doce amiga peg-filgrastin, (administrada 24 horas após a quimioterapia por via subcutânea) lá punha a minha medula óssea a trabalhar, a produzir glóbulos brancos, a recuperar as minhas células boas. Mas com tanto esforço quem sofreu fui  eu, pois que os ossos também não trabalham de graça e fartaram-se de se queixar do trabalho em excesso. O cabelo e outros parentes, nem esperaram para contar como foi, logo de início,  foi um ar que lhes deu e de malas aviadas foram-se. Ficou por cá a agonia, o mal estar geral, as dores no corpo, nos ossos, nos músculos, a cabeça zonza e a grande novidade, os afrontamentos, esses nunca mais me largaram. Não me posso queixar do que mais temia, os enjoos, esses não quiseram nada comigo, felizmente. Mas como recompensa tive o prazer de conviver mano a mano com uma mucosite (inflamação da mucosa - revestimento das cavidades naturais, mais comum no tubo digestivo) e posso afirmar que não foi lá muito agradável, aliás nada mesmo. Aconteceu-me na quarta sessão, e penei cumó caneco! Com medicação adequada prescrita pela minha médica e uns bochechos - produto fornecido pelo hospital a mucosite acalmou. Ganhei três quilos. Sim, ganhei! Porque ao alto do meu 1,80 m juntar três quilos aos meus frágeis 54 é uma dádiva. Como não há bela sem senão, a minha médica já me advertiu, não quer que eu engorde mais, não por questões estéticas, mas porque o cancro alimenta-se de açúcar, o que é um facto. 

Agora só me resta esperar, só mais um pouco, até que caia o último grão de areia, da caprichosa ampulheta! A cada grão de areia, fui revelando em mim serenidade para aceitar a doença e coragem para combatê-la. 

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

A passo lento e firme, em direcção à meta!

Tartaruguinha! Ultimamente, sinto-me assim!  Devagar, devagarinho! ...a passo lento e firme, em direcção à meta. Sem pressa, mas determinada! Sem inspiração para grandes dissertações, mas com convicção.  Devagar, vou caminhando nestes meus lentos dias, que já nada de novo me trazem. Fecharam-se numa rotina sem igual, sem me permitirem qualquer hipótese de escolha. O caminho é sempre em frente, e é para lá que eu sigo, de olhos bem abertos, sem olhar para o lado, sem direito a distracções. Como a doce tartaruguinha, a quem a paciência já ensinou grandes lições, também eu vou, passo a passo, derrubando muralhadas e conquistando vitórias.